Por: José Crespo
Dentre os animais nocivos, considero o rato o mais desprezível sob todos os aspectos e sinônimos, além de extremamente prejudicial e perigoso à saúde, sendo transmissor em potencial de uma série de doenças, muitas delas capazes de matar.
Ele se espalha pelo globo distribuído em três categorias - das ratazanas (ou cuiaras), aquelas do esgoto, do forro e dos camundongos, os caseiros, que fazem ninho até dentro de gavetas.
Essa praga tem uma proliferação espantosa. É só fazer as contas: um rato vive em média três anos, mas sua maturidade sexual ocorre aos três meses. Em ambientes onde conta com boa alimentação, uma fêmea procria mensalmente, com até doze filhotes. Só ela, então, coloca pelo menos quatrocentos filhotes no mundo durante sua vida. Se metade for constituída de fêmeas, ela terá mais de 50 mil “netos” até morrer. E vai por aí.
Tanto rato assim só poderia causar mesmo problemas ao homem. A Organização das Nações Unidas calcula que um quinto da produção mundial de alimentos é destruída por roedores.
Isso não é nada, se comparado às doenças que o rato transmite, direta ou indiretamente. Ou a leptospirose, causada por bactérias que se alojam nos rins e é transmitida às pessoas que têm contato com sua urina, ou a peste bubônica, veiculada por um tipo de pulga abrigada pelo roedor – na Idade Média, a Europa teve um terço de sua população (cerca de 45 milhões de pessoas) exterminada pela doença, que infelizmente continua matando na Índia, Paquistão, Bangladesh e, pasmem, até no Brasil, principalmente no Nordeste.
Além dessas doenças, sem dúvidas as mais graves transmitidas através do rato, ele veicula outras – o tifo murino, a febre de sua mordida, a triquinose, hantavirose, sarnas, micoses e até salmoneloses. Não dá, mesmo, para brincar com ratos, sejam eles cuiaras, do forro ou camundongos.
Tudo isso me veio à lembrança dias atrás, quando soube que uma funcionária da Secretaria Geral da Mesa do Senado Federal, trabalhando de sandálias, foi mordida no pé por um rato, não exatamente pioneiro numa ocorrência desse tipo naquela Casa de Leis.
Em 2009, dois funcionários do gabinete do senador tucano Álvaro Dias foram picados pelas abelhas de um enxame que escolheu justo aquela sala para se acomodar. Uma família de gambás também conseguiu fazer casa num buraco de parede do prédio. E há notícias de que escorpiões, outros bichos perigosos, também são vistos frequentemente por lá.
Mas esta é a primeira vez que se tem notícia de um ataque covarde de um rato contra um dos quase 2.500 funcionários efetivos da Casa ou dos 3.516 terceirizados que custam R$ 155 milhões por ano aos nossos bolsos.
Até onde acompanhei pelo noticiário, durante o necessário e urgente serviço de desratização feito no Senado ninguém conseguiu identificar o facínora de pelos que atacou a funcionária, não se sabendo pois se era uma repelente cuiara ou um menos ofensivo camundongo. Também não sei do estado de saúde da vítima – mas rezo para que já esteja livre de perigo e do trauma.
Claro que sou solidário com a pobre mulher mas, com todo respeito à sua atuação e importância funcional no Senado, fico imaginando os prejuízos que um rato ensandecido causaria ao país se, ao invés da humilde funcionária, ele e seus colegas mordessem alguns senadores.
Pois todos sabem que a importante Casa de Leis tem três representantes por Estado eleitos para um mandato de oito anos e numa espécie de rodízio que impede, por exemplo, que a cada eleição aconteça uma troca total de senadores – num pleito escolhe-se um terço e, no outro, dois e assim por diante.
Não fosse esse sistema e haveria um sério risco para a estabilidade política da nação, visto que de uma hora para outra poderiam aportar no Senado 81 eleitos tipo Tiririca, daqueles que não sabem absolutamente nada sobre o que podem e devem fazer em nome de suas unidades federativas.
Já imaginaram os eleitores se porventura os ratos do Senado (deve haver mais de um por lá, além daquele safado que mordeu a funcionária, pois para se reproduzirem são necessários pelo menos dois) se unissem e de repente pregassem os dentes numas três dúzias de senadores e, pior ainda, de quebra lhes transmitissem uma daquelas doenças terríveis mencionadas lá atrás?
Seria o caos, pois de uma hora para outra o Senado teria que convocar suplentes e colocá-los nas cadeiras dos titulares atacados para decidir leis que mudam nossa vida, mesmo sem saber o que lá estão fazendo, no melhor estilo do saltimbanco campeão de votos por São Paulo na última eleição.
Ainda bem que os senadores estavam em recesso no momento do ataque do roedor, aproveitando as merecidas férias em seus Estados de origem, de tal maneira que nenhum deles correu o risco de ser mordido nos calcanhares e de contrair alguma doença grave.
Mas, como diz a sabedoria do povo, é sempre melhor prevenir do que remediar. Assim, proponho o lançamento de uma ampla e imediata campanha de apoio irrestrito do povo e das nossas sérias autoridades ao importante e profilático serviço de desratização iniciado para eliminar já os roedores do Senado.
José Crespo é vereador em Sorocaba, SP. advogado, engenheiro e professor universitário.